O Comércio Silencioso de Serra Leoa: Por Dentro do Mundo da Jamba
O Comércio Silencioso de Serra Leoa: Por Dentro do Mundo da Jamba
Em Serra Leoa, todo mundo conhece alguém que lida com Jamba. Seja um menino da rua, um agricultor no interior ou um tio que fuma discretamente nos fundos da casa, a Jamba — nosso nome local para a cannabis — se tornou parte do cotidiano de formas que raramente discutimos abertamente. É ilegal, sim, mas também está em toda parte. E, como muitas coisas neste país, sua história não é apenas sobre crime; é sobre luta, sobrevivência e um tipo esquecido de cura que existia muito antes de a medicina ocidental saber seu nome.
Nas pequenas cidades e vilarejos distantes, a Jamba é cultivada como qualquer outra planta. Às vezes, está escondida entre pés de mandioca e amendoim. Às vezes, nem está escondida; apenas longe o suficiente da estrada principal para que ninguém faça perguntas. Para muitos agricultores, plantar cannabis é uma decisão nascida da necessidade. Milho e óleo de palma podem render alguns leones, mas a Jamba tem mais valor — às vezes, literalmente. Não é apenas uma cultura comercial; para alguns, é um armário de remédios. As mulheres mais velhas a fervem em sopas para dor nas articulações. Os curandeiros trituram em pastas para feridas. Os rastas a misturam em chás para problemas respiratórios. Seus usos são muitos, mesmo que não falemos deles com orgulho.
Mas mesmo com seu poder de ajudar, a planta carrega um fardo. Aqueles que a cultivam e transportam — os jovens, os vendedores de rua, os desesperados — são muitas vezes os que pagam o preço mais alto. São usados, descartados e esquecidos. Alguns recebem promessas de dinheiro, mas acabam com migalhas. Outros são atraídos pela promessa de curar a mente ou o corpo, apenas para acabar presos por tentarem. E quando a polícia chega, não são os grandes traficantes ou os funcionários corruptos que são levados. São os pequenos, os vulneráveis, que acabam atrás das grades, com suas vidas paradas indefinidamente.
Ainda assim, a planta se move de forma silenciosa e astuta. Escondida em sacos de carvão, dobrada em pilhas de banana, misturada com pimenta e colocada sob os bancos dos poda-podas. Das colinas verdes de Koinadugu às esquinas empoeiradas de Kroo Bay, a Jamba atravessa nosso país como um fantasma. E seu propósito muda a cada mão por onde passa. Para o trabalhador estressado, traz alívio. Para o paciente com câncer em um vilarejo distante sem morfina, alivia a dor. Para o jovem ansioso que não consegue dormir, traz algumas horas de paz.
Na cidade, a Jamba caminha na linha entre o vício e a virtude. Para muitos, é o que mantém a mente firme em um país que muitas vezes parece insuportável. “Acalma minha cabeça”, dizem. E talvez acalme mesmo. Talvez alivie nervos que as clínicas não tratam, silencie traumas que a terapia não alcança. Mas o estigma a envolve como fumaça. A sociedade se recusa a ver o ser humano por trás do hábito. O homem que a usa para controlar convulsões. A mulher que faz chá para sua insônia. Em vez disso, são todos jogados em um mesmo grupo: “desviados”. E assim, suas histórias permanecem inauditas.
Enquanto isso, a lei continua presa no tempo. Ultrapassada, cega às nuances. Rigorosa com os pobres, branda com os bem conectados. Você pode ser preso por portar alguns baseados, mesmo que eles fossem a única coisa ajudando com dor nas costas ou dores de cabeça pós-traumáticas. Ao mesmo tempo, algumas das próprias pessoas que aplicam essas leis consomem discretamente em casa, longe dos olhos da punição.
Globalmente, a conversa sobre a cannabis mudou. Está sendo estudada por suas propriedades anti-inflamatórias, sua capacidade de tratar epilepsia, dor crônica, TEPT, ansiedade. Países estão repensando suas leis, abrindo portas para uma planta que antes temiam. Mas aqui em Serra Leoa, ainda a vemos por uma única lente: criminalidade. Ainda não fizemos as perguntas certas. Ela pode ajudar nosso povo? Pode aliviar a pressão sobre nosso sistema de saúde precário? Podemos construir programas comunitários que regulem seu uso e preservem seus benefícios?
A Jamba não é só um barato. Não é só um comércio. É uma planta com raízes na medicina, na cultura e na sobrevivência. Talvez seja hora de abordá-la com honestidade, curiosidade e respeito. De parar de criminalizar os sintomas e começar a tratar as causas. Porque, na verdade, esta não é uma história sobre maconha. É uma história sobre pessoas — pessoas reais — tentando viver, lidar, curar. E talvez, só talvez, a folha que condenamos contenha mais respostas do que imaginamos.